Anda para aí uma barulheira
absurda sobre a possibilidade de se pagarem os subsídios de férias e natal em duodécimos ao longo do ano.
Francamente não vejo qual é o
problema e, pelo contrário, vejo bastantes vantagens. Não se trata de tirar
nenhum dos subsídios, trata-se apenas da forma de os pagar.
Mas comecemos pelo princípio.
No final do ano os trabalhadores vão
receber o mesmo valor e vão descontar os mesmos impostos, porque esse duodécimo
é um processamento separado, não é acrescentado ao ordenado, logo não há
maiores retenções na fonte.
Os empregadores vão pagar o
mesmo.
O valor recebido em Junho e em
Dezembro é também igual, não há dilação no tempo de qualquer valor, até pelo contrário,
se apenas o subsídio de Natal for pago em duodécimos, o trabalhador recebe mais
cedo, no ano civil, uma parte do valor.
Para os empregadores, esta
modalidade pode evite picos de custos em Junho e Novembro facilitando a gestão
da tesouraria e, do outro lado, em especial, para quem tem filhos em idade
escolar permite-lhe uma disponibilidade extra já em Setembro, evitando o
recurso a cartões de crédito e pagamento de juros altíssimos, como acontece com
muitas famílias que não têm disponibilidade financeira mensal para as despesas
de início de ano lectivo. Mas também para quem tenha custos sazonais de outros
tipos, esta medida pode evitar o recurso ao crédito e ao pagamento de juros. Quantos
portugueses usam uma parte ou até a totalidade destes subsídios para
regularizar dívidas e os respectivos juros? Esta medida poderá em muitos casos
evitar isso.
Para além de tudo isto ainda vejo
outra vantagem, uma vantagem pedagógica e que é habituar os portugueses a gerir
melhor os seus orçamentos familiares. Independentemente da actual situação e
emergência, se olharmos para os últimos 10 anos verificamos que perdemos os hábitos
de poupança, globalmente e dada a facilidade de crédito durante muitos anos,
muita gente habituou-se a “chapa ganha, chapa gasta” e isto é facilmente comprovável
pelos indicadores de endividamento das famílias e pelos rácios de transformação
dos bancos.
Com o sistema de duodécimos, todos
nós vamos ter de gerir o nosso orçamento com mais parcimónia, ou não haverá
disponibilidade para férias e outras despesas sazonais, o que significa
reaprender a poupar o que nos sobra hoje para poder ter gastos extra amanhã.
Não vejo assim qualquer desvantagem
neste sistema, vejo sim é os sectores mais conservadores da sociedade, que se
arrogam de progressistas, mas que estão contra tudo o que sejam mudanças, os
defensores do “quanto pior, melhor”, aqueles que apenas sobrevivem politicamente
da agitação social, a inventar falsos medos para assustar as pessoas.