Por estranho que pareça uma
vitória pode facilmente transformar-se em derrota, basta que não tenha a
dimensão que seria expectável e saiba a pouco. E foi isso mesmo que aconteceu a
António José Seguro.
António Costa assumia-se como uma
reserva dentro do PS. Soube gerir bem os silêncios durante três anos, não se
comprometendo em assuntos potencialmente complicados, passando entre as gotas
da chuva nas matérias decisivas, mantendo um capital político com umas
intervenções teatrais, mas não assumindo a ambição
A magra vitória do PS nas
Europeias deu-lhe a última oportunidade de chegar à liderança, de justificar a
sua candidatura, embora todo este processo se tenha revelado demasiado penoso e
penalizador tanto para ele como para Seguro. Tudo o circo montado à volta de
congressos extraordinários, primárias com simpatizantes a votar, tem mostrado o
desnorte do PS, tem mostrado que o que grande motivo de discórdia interna é o
cheiro ao poder, o achar que é possível ao PS ganhar as próximas eleições legislativas
e cada qual apoia aquele que acha ter melhores hipóteses.
Seguro venceu todas as eleições,
mas nitidamente há a sensação de que irá de vitória em vitória até à derrota
final. O resultado das Europeias, contra um governo que teve de fazer o que este
governo teve de fazer deixa bem claro que Seguro não convence os portugueses e
Costa percebeu que não podia adiar mais a sua entrada em cena, ou então
perderia a oportunidade de vez.
Seguro perdeu a credibilidade
quando se começou a demarcar das medidas do Programa de Ajustamento. Seguro
concordava que era preciso reduzir o défice, em abstracto, mas não queria cortar
nenhuma despesa, em concreto e nunca apresenta alternativas credíveis. A pouco
e pouco, toda a gente foi percebendo que se tratava de simples posições
eleitoralistas, que não estava a defender os interesses do país, mas sim os
seus próprios, tentando ganhar popularidade. Seguro nunca apoiou uma medida de
austeridade do Governo, ao contrário do que Passos Coelho fez com o Governo
anterior e ultimamente, em desespero de causa, até começou a prometer voltar a
elevar a despesa, o que por muito bonito que soe, deixa no ar a dúvida de que
se Seguro chegasse ao poder e cumprisse essas promessas, poderíamos ter de novo
a troika dentro de dois ou três anos, com mais e maiores medidas de
austeridade.
Se Costa ganhar, esse vai ser o
seu grande problema, ainda terá um ano de líder da oposição, de exposição a
todos os problemas e não apenas àqueles que lhe são convenientes, como fez até
agora, não vai poder estar calado e vai ter de dizer o que pensa, que
alternativas propõe, que medidas defende em concreto ou então seguirá o mesmo
caminho de Seguro perdendo a credibilidade.
Costa na campanha interna do PS vem
assumir os Governos de Guterres e Sócrates, pudera, fez parte deles, também tem
responsabilidade nos resultados, mas o que fará se for líder do PS? Irá também
descomprometer-se das medidas de contenção orçamental, que também ajudou a que
fossem necessárias, ou irá assumir posições de apoio ao Governo em medidas
concretas?
Esse é o grande drama de António
Costa, se ganhar terá um ano em que manter o partido consigo e ganhar o país poderão
ser exercícios antagónicos e inconciliáveis.
E ele sabe que haverá sempre outro “António” à
espreita da sua oportunidade
*Publicado na Imprensa