sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os Duodécimos


Anda para aí uma barulheira absurda sobre a possibilidade de se pagarem os subsídios de férias e natal em duodécimos ao longo do ano.

Francamente não vejo qual é o problema e, pelo contrário, vejo bastantes vantagens. Não se trata de tirar nenhum dos subsídios, trata-se apenas da forma de os pagar.

Mas comecemos pelo princípio.

No final do ano os trabalhadores vão receber o mesmo valor e vão descontar os mesmos impostos, porque esse duodécimo é um processamento separado, não é acrescentado ao ordenado, logo não há maiores retenções na fonte.

Os empregadores vão pagar o mesmo.

O valor recebido em Junho e em Dezembro é também igual, não há dilação no tempo de qualquer valor, até pelo contrário, se apenas o subsídio de Natal for pago em duodécimos, o trabalhador recebe mais cedo, no ano civil, uma parte do valor.

Para os empregadores, esta modalidade pode evite picos de custos em Junho e Novembro facilitando a gestão da tesouraria e, do outro lado, em especial, para quem tem filhos em idade escolar permite-lhe uma disponibilidade extra já em Setembro, evitando o recurso a cartões de crédito e pagamento de juros altíssimos, como acontece com muitas famílias que não têm disponibilidade financeira mensal para as despesas de início de ano lectivo. Mas também para quem tenha custos sazonais de outros tipos, esta medida pode evitar o recurso ao crédito e ao pagamento de juros. Quantos portugueses usam uma parte ou até a totalidade destes subsídios para regularizar dívidas e os respectivos juros? Esta medida poderá em muitos casos evitar isso.

Para além de tudo isto ainda vejo outra vantagem, uma vantagem pedagógica e que é habituar os portugueses a gerir melhor os seus orçamentos familiares. Independentemente da actual situação e emergência, se olharmos para os últimos 10 anos verificamos que perdemos os hábitos de poupança, globalmente e dada a facilidade de crédito durante muitos anos, muita gente habituou-se a “chapa ganha, chapa gasta” e isto é facilmente comprovável pelos indicadores de endividamento das famílias e pelos rácios de transformação dos bancos.

Com o sistema de duodécimos, todos nós vamos ter de gerir o nosso orçamento com mais parcimónia, ou não haverá disponibilidade para férias e outras despesas sazonais, o que significa reaprender a poupar o que nos sobra hoje para poder ter gastos extra amanhã.

Não vejo assim qualquer desvantagem neste sistema, vejo sim é os sectores mais conservadores da sociedade, que se arrogam de progressistas, mas que estão contra tudo o que sejam mudanças, os defensores do “quanto pior, melhor”, aqueles que apenas sobrevivem politicamente da agitação social, a inventar falsos medos para assustar as pessoas.