domingo, 31 de outubro de 2010

The Thing

É público e notório que não tenho qualquer simpatia e muito pouco respeito por Francisco Louçã. Isso não se deve às diferenças ideológicas que tenho em relação ao Bloco de Esquerda, pois tenho as mesmas ou maiores em relação ao PCP e no entanto respeito as suas posições e convicções, mas sim devido à falta de honestidade intelectual de Louçã.

Há uns tempos atrás, Louçã e os seus apaniguados andavam com ares de superioridade intelectual e moral a atirar barro para a ventoinha tentando sujar tudo e todos que estivessem na sua frente. Depois, alguns pequenos casos no seio do próprio Bloco demonstraram que tinham tantos telhados de vidro como todos os outros partidos e que afinal não eram os guardiões impolutos da moralidade.

Hoje, Louçã, no seu melhor estilo arrogante veio acusar o PSD de ter encenado todo o processo negocial para ajudar a candidatura de Cavaco Silva, personagem que como também todos sabem não é propriamente santo a quem eu reze.

Na teoria, a acusação de Louçã até poderia ter alguma validade, não fora o pequeno facto de que quem mudou a proposta inegociável e reatou as negociações ter sido o PS e o Governo.

Recordemo-nos que na Quarta-feira o PS apresentou ao PSD uma última proposta dizendo que era inegociável e que o PSD recusou tal proposta. Depois, na Quinta-feira Sócrates afirmou que haveria um novo esforço para conseguir um acordo e foi o Ministro da Finanças que tomou a iniciativa de apresentar a nova proposta ao PSD.

Tudo isto foi público, portanto Louçã ignora ostensivamente a verdade dos factos para falaciosa e demagogicamente vir acusar o PSD de estar apenas a tentar favorecer a recandidatura de Cavaco Silva. Quando muito, poderia era acusar o PS e o Governo.

Esta é a completa falta de honestidade intelectual e de seriedade que me faz abominar a criatura...
Nota: Como tenho muito respeito por quem me honra ao ler este blog não coloco qualquer fotografia da dita criatura...

Orçamento IV

Para espanto de todos e se calhar do próprio quando ouviu o que disse, ficámos a saber, pela voz de Francisco Assis, líder parlamentar do PS, que os alegados 500 milhões de euros que o PSD conseguiu poupar aos bolsos dos contribuintes serão compensados por cortes na despesa pública. Então se era possível cortar mais 500 milhões de euros na despesa pública e assim evitar mais sacrifícios aos portugueses porque é que o Governo não o tinha já feito na sua proposta de Orçamento?

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a falta de vontade do Governo para emagrecer o Estado e cortar na despesa pública, Francisco Assis acabou de vez com essa questão. Talvez agora percebam porque é que eu ando a aqui a gastar o meu latim a afirmar que o Orçamento não vai ser cumprido e não vamos atingir os 4,6% de défice em 2011. Não é só porque vamos ter um mau Orçamento, mas essencialmente porque temos um mau Governo.

sábado, 30 de outubro de 2010

Sentido de Estado



Quem, como eu, conhece Pedro Passos Coelho há mais de vinte e cinco anos e acompanhou de muito perto sua actividade política percebe bem a sua postura enquanto Presidente do PSD.

Quando foi eleito, Pedro Passos não viu uma simples oportunidade de ser Primeiro-ministro, viu sim, essencialmente, uma oportunidade de influenciar desde logo o futuro de Portugal de acordo com as suas convicções.

Desde o PEC II, em Abril, até agora à questão do Orçamento de Estado, Pedro Passos Coelho nunca adoptou as posturas que a estratégia política calculista mais aconselharia e que era de não se comprometer com qualquer que fosse o caminho escolhido pelo Governo. Tal postura teria sido fácil, quer por o Governo nunca revelar o verdadeiro estado das contas publicas, quer, agora, com a consensualização nacional de que é preferível aprovar um mau orçamento do que viver por duodécimos. Em qualquer caso, a abstenção do PSD, sem negociações, teria sido facilmente justificada e politicamente bastante cómoda.

Mas não é esse o caminho de Pedro Passos Coelho. O que o motiva é como conseguir melhorar a vida das pessoas ou pelo menos evitar sacrifícios desnecessários aos portugueses, porque ao contrário do que sempre se tentou vender sobre ele, é alguém muito preocupado com as consequências sociais das medidas económicas, em especial em relação aos mais desprotegidos. Mesmo sabendo e reafirmando que este é um mau orçamento, fez tudo o ao seu alcance para minorar os terríveis efeitos sobre as famílias e sobre a economia.

O acordo que Pedro Passos autorizou, com eventual sacrifício político próprio, acabou de proteger a esmagadora maioria das famílias de uma autêntica sangria fiscal, que aumentaria exponencialmente a pobreza e diminuiria violentissimamente o rendimento disponível dos portugueses, desde as classes mais pobres até à classe média. Gostem ou não de Pedro Passos Coelho, vários milhões de portugueses ficaram hoje a dever-lhe muito.

Esta postura reforça a enorme confiança que já tinha em Pedro Passos Coelho. Se o líder da oposição demonstra tal sentido de estado, mesmo com prejuízo da sua imagem e sem calculismos em relação à sua futura eleição como Primeiro-ministro, essa é uma garantia de como será a sua postura enquanto governante, a postura que Portugal precisa e com urgência.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Orçamento III

Quando começa a ser claro para todos os que ainda tinham dúvidas que o Governo nunca pretendeu conseguir efectivamente um acordo sobre o Orçamento para 2011, os juros da dívida portuguesa voltaram a subir e veio tudo quanto é analista, pseudo-analista e membro do Governo interpretar isso como o resultado da falha das negociações entre o PSD e o Governo sobre o Orçamento de Estado para 2011.
Errado, a subida dos juros afectou muitos outros países, incluindo a Alemanha e até, comparativamente, Portugal não foi muito penalizado nesta subida, sendo o spread comparado com o alemão até mais favorável a Portugal, do que era há um mês atrás.
É claro que com a qualificação da maioria dos nossos analistas, não é de estranhar que esse facto tenha passado despercebido e prossiga a desinformação que tem sido constante neste processo. Já as afirmações dos nossos Governantes, bom, essas, ou consusbtanciam a confirmação da incompetência que todos lhe reconhecemos, ou então, simples má fé e deliberada falta à verdade, o que também não seria nada surpreendente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aiii

Pois, parece que é altura de todos aqueles, desde comentadores a líderes partidários, que afirmavam que as conversações entre o PSD e o Governo eram uma mera encenação política, morderem a língua e pedirem desculpa.
Haverá algum que tenha essa dignidade?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Orçamento II

A estratégia de crescimento do Governo subjacente à proposta de Orçamento de Estado para 2011 é a do costume: Exportações.

Este chavão ficou na moda no início da década e ninguém se questiona se faz algum sentido ou sequer se é exequível. É o típico bloqueio intelectual que as modas ideológicas tem o condão de provocar até nas mais brilhantes mentes.

Já começo a ficar cansado de dizer que não podemos orientar a nossa estratégia de crescimento e de desenvolvimento exclusivamente para as exportações.

Andamos nisto há dez anos e sem qualquer resultado, bem pelo contrário, há dez anos que não crescemos acima da média da UE, porque não temos capacidade concorrêncial global, mas sim apenas em pequenos clusters.
A nossa estratégia tem de passar por uma forte aposta no turismo e globalmente no mercado nacional, na substituição de importações por produção nacional, baseada numa boa relação qualidade/preço e nas vantagens competitivas que advêm de menores custos logísticos.

Quanto tempo vai levar até que os nossos ilustres governantes e muitos dos meus brilhantes colegas economistas percebam isto? Mais dez anos?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Orçamento I


Não acredito que vá escrever apenas um post sobre o Orçamento de Estado para 2011, mas cá vai o primeiro.

Do que já consegui apurar, o Governo quer reduzir em 3% o défice, sendo que o aumento de impostos e cortes de deduções fiscais contribuem com 2,6% e a redução da despesa apenas com 0,4%.

Daqui podem retirar-se desde já duas conclusões:

a) Vamos ter um período de recessão, isto é a economia vai contrair e não crescer como o Governo defende, o que significará mais desemprego, mais pobreza e consequentemente mais recessão económica, pelo inevitável efeito da contracção do consumo privado. Por outro lado a inexistência de poupança vai obrigar a maior endividamento externo, porque continua a haver necessidade de financiar a economia portuguesa, por não se reduzir a despesa significativamente.

b) O Governo não quer ou não sabe como reduzir a despesa e portanto pretende manter a sua estratégia de redução do défice através do aumento de impostos, o que não é sustentável a médio e longo prazo, porque não é possível continuar a aumentar os impostos indefinidamente.

Até ao presente o Governo mostrou-se incapaz de cortar a despesa, esse é o verdadeiro problema do nosso país e as agências de rating sabem isso. Os mercados internacionais não estão preocupados com os impostos, o que observam e avaliam é o crescimento, o endividamento e o nível de despesa, logo um orçamento que quase não reduz a despesa e provoca recessão, o que vai provocar necessidade de financiamento externo, não irá tranquilizar os operadores financeiros, bem pelo contrário, irá indicar-lhes que vamos claramente no caminho errado.

Se este orçamento passar, daqui a seis meses estaremos numa situação bem pior do que aquela em que estamos agora, o que de resto também é verdade se compararmos com a situação de há seis meses atrás. O caminho é o mesmo, para o abismo, para o tal abismo de que Lacão gosta de falar e Sócrates se recusa a ver.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tudo tem limite...


Sempre ouvi dizer que tudo tem limites, menos a presunção humana e realmente de pois de ler as declarações do Presidente da Associação Sindical do Juízes em que advoga que as reduções de subsídios propostas pelo governo só vão afectar os juízes porque estes incomodaram os boys do PS no processo Face Oculta, fiquei sem dúvidas sobre esta matéria.

É surpreendente que o Presidente da Associação Sindical dos Juízes tivesse alguma esperança de que os cortes de custos propostos pelo Governo para a função pública não fossem também aplicados aos juízes, tanto mais quando se trata de uma classe profissional muito bem remunerada em comparação com a média nacional. Todos reconhecemos a importância e o poder inerente às funções, mas daí a pensar que poderiam não ser afectados é já uma presunção e tanto.

Não, meu caro senhor, os juízes poderão ter os seus salários e subsídios diminuídos porque todos os funcionários públicos, onde os senhores se incluem, terão de pagar a incompetência deste governo e deste Primeiro-ministro que, afinal, há pouco mais de um ano os portugueses confirmaram no poder. Temos o que escolhemos e, portanto, o que merecemos.

sábado, 16 de outubro de 2010

Vergonha....

Na altura em que escrevo ainda não foi oficialmente apresentada a proposta de Orçamento de estado para 2011, mas pelo que já foi noticiado e não desmentido, parece que a dita proposta limita as deduções fiscais, incluindo também as relacionadas com a saúde, o que só por si já é muito mau. Mas pior ainda é que essas limitações são em percentagem do salário bruto conduzindo a uma inaceitável injustiça social. O que o Governo propõe é que quem menos recebe, os mais pobres, os pensionistas, são os que menos podem deduzir, enquanto que os mais ricos podem fazer deduções maiores.
É este o conceito de protecção social do Partido Socialista que anda aos gritos armado em paladino dos pobres, enquanto que na prática é quem mais regalias sociais tem tirado precisamente aos mais desprotegidos? Que raio de justiça social é esta? Alguém me explica?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lacão Dixit

Este governo é pródigo em frases infelizes, para além das acções é claro. No momento em que o PS diz que quer um entendimento com o PSD para aprovar o orçamento, e note-se que eu escrevi "diz que quer", o Ministro dos Assuntos Parlamentares, supostamente quem tem a principal responsabilidade de promover esse entendimento, vem no dia em que se inicia essa tarefa acusar o líder do PSD de "ter vontade de caminhar à beira do abismo".
Por sorte para Lacão, Pedro Passos Coelho não responde a acusações de baixo nível, mas eu que não sou líder do PSD, nem tenho o bom feitio do Pedro Passos, sempre posso dizer ao Sr. Jorge Lacão que a beira do abismo em que Pedro Passos Coelho tem vontade de caminhar chama-se Portugal e foi o Governo do Sr. Jorge Lacão e do Sr. Sócrates que nos conduziram a essa beira do abismo, preparando-se agora para nos lançar nele se ninguém tiver a coragem de os travar.
Sobre o orçamento, como escreve sempre um grande amigo no final dos seus post's, depois falamos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

¿Por qué no se callan?



Nos últimos dias alguns destacados militantes do PSD têm vindo a publico aconselhar o partido e o líder a viabilizar o orçamento de estado para 2011.

Conhecendo-os, como eu e muitos os conhecemos, sabemos bem os motivos que a cada um assiste para vir tomar essa posição e temos também a certeza que não é o superior interesse de Portugal que os move.

Nem podia ser, relativamente a um orçamento de estado que não é conhecido ainda, logo...que tal manterem a boquinha fechada antes que alguém perca a paciência e vos diga umas quantas verdades?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Tentação do Abismo



O desespero nunca foi bom conselheiro e este (des)Governo está desesperado perante a sua própria incompetência.

Durante meses, o Governo e o Primeiro Ministro andaram a tentar esconder o verdadeiro descalabro em que se encontram as contas públicas, tentando assim camuflar a sua própria incapacidade de refrear o aumento incontrolado da despesa do estado.

Desde o Sector Empresarial do Estado, leia-se as empresas públicas, passando pelas fundações que em lugar de serem fundos privados são pagas por todos nós, continuando em investimentos perfeitamente desnecessários por parte do estado em obras sem qualquer proveito imediato ou previsível para o país, até à multiplicidade de organismos, institutos e outras entidades que vivem à conta dos nossos impostos e não servem para nada que valha a pena, continuou o aumento da despesa de tal modo que o défice, apesar do aumento de impostos, é agora maior que no início do ano.

Perante este quadro dantesco, apresenta o Governo um novo conjunto de medidas de austeridade, em relação às quais apenas temos a certeza de que novos aumentos de impostos, directos e indirectos, poderão ser concretizados, porque a redução da despesa estrutural é apenas um vago conjunto de generalidades desconexas e sem estratégia, focando-se na redução de regalias sociais, voltando assim a penalizar o contribuinte.

Este pacote de medidas é incoerente e não se integra em qualquer estratégia que não seja a de arrecadar desesperadamente dinheiro para os cofres do Estado. A esmagadora maioria das medidas são efectivamente aumentos de impostos e em toda linha, desde o IRC, IRS, afectando neste caso especialmente os pensionistas, comparticipações sociais, de saúde, o famigerado novo código contributivo que vai matar o que resta de micro e pequenas empresas deste país, para não falar do aumento do IVA que naturalmente vai reduzir a receita fiscal, aumentar a economia paralela e atirar para a falência mais uns milhares de empresas e para o desemprego umas dezenas de milhar de trabalhadores, que por sua vez irão fazer aumentar os custos do subsídio de desemprego, tornando esta medida duplamente penalizadora para as contas públicas. Se a isto acrescermos a redução dos salário líquidos, teremos o perfeito cenário de crise social e de aumento descontrolado da pobreza.

Nunca qualquer país saiu de uma crise sem promover o crescimento económico e este pacote é precisamente a antítese do que seria necessário para tal desiderato, porquanto é redutor desse mesmo crescimento e apenas se limita a tentar satisfazer o voraz apetite esbanjador do estado.

Mais do que nunca, perante estas bases para o novo orçamento, estou convicto que impedir este governo de continuar a aumentar a despesa, chumbando o orçamento para 2011, é um imperativo de interesse nacional e a nossa última hipótese de salvação. Se deixarmos isto continuar, os sacrifícios que teremos de fazer no futuro serão verdadeiramente dramáticos e assistiremos provavelmente à pior crise económica e social desde a grande depressão, nos anos 30 do século passado.