quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sabedoria...



Para que conste sou um admirador do Rei Juan Carlos I de Espanha. Creio que é alguém de quem qualquer país se orgulharia de ter como dirigente e tem dado provas inequívocas de que é efectivamente um ser humano de excepção, daqueles que surgem muito raramente neste mundo.

Portanto e feita esta declaração, em face das ultimas e mais tristes declarações da Senhora Chanceler Ângela Merkel, proferidas no mais puro e duro estilo chauvinista alemão, que me recordaram as razões pelas quais até os alemães estão ansiosos para se ver livre dela, entendo dirigir-lhe a mesma frase com que Sua Majestade o Rei Juan Carlos, de forma sabia e clarividente, presenteou aquela coisa inenarrável que dá pelo nome de Hugo Chavez:
¿Por qué no te callas?

domingo, 25 de setembro de 2011

A superioridade moral

Confesso que sempre me irritaram as pessoas que se arrogam ares de superioridade moral. Não porque cada um de nós não tenha o direito de se achar moralmente irrepreensível, mas porque a essa postura está sempre associado um julgamento dos outros, um juízo de valor e de intenção em relação à moralidade alheia, quase sempre pejorativo. Ora, ninguém tem o direito de diminuir a qualidade moral dos outros para enaltecer a sua.

A triste declaração de D. José Policarpo de que "ninguém sai da política com as mãos limpas" é um exemplo dessa lamentável postura e neste caso particularmente infeliz por vir de um alto responsável da Igreja Católica, que não sendo o primeiro, acaba por vir lançar uma pedra esquecendo-se de que só os "sem pecado" o devem fazer e a sua instituição não é exactamente impoluta.

Em Portugal, também fruto de alguns maus exemplos, é lugar comum achar que quem faz política não é muito honesto, que anda à procura de enriquecer rapidamente e de forma ilícita, quando na realidade a política nem é a actividade mais lucrativa que se pode ter na sociedade, mas de certeza uma das mais expostas e mais fáceis de controlar do ponto de vista da acumulação de património.

A verdade é que há pessoas honestas e pessoas desonestas na política, como de resto em todos os sectores e actividades da sociedade, pelo que não se pode, nem deve, julgar toda uma classe pelos actos de alguns dos seus membros. Isso é uma injustiça inqualificável, como seria considerar que, perante situações já havidas e comprovadas de corrupção e fraude no seio da Igreja Católica, todos os membros do clero são desonestos.

D. José Policarpo prestou um mau serviço ao país. Quando os políticos, esses malandros, andam a tentar atrair pessoas honestas e competentes para a actividade política, porque entendem, porque entendemos, que a política é função de serviço à sociedade e ao próximo, aparecem comentários como este que em lugar de aproximar as pessoas da política, da condução do nosso destino colectivo, apenas as afastam e deixam mais lugar para aqueles que são eventualmente menos honestos ou cujas intenções não são as mais correctas.

Infelizmente, neste caso, quem sujou as mãos foi o Cardeal Patriarca de Lisboa. Sujou as mãos porque em lugar de incentivar à participação cívica, ajudou a diminui-la e sujou as mãos porque sendo um dignitário da Igreja não observou a recomendação bíblica que nos diz : " Não julgueis, para não serdes julgados, pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos."

Agora todos temos o direito de medir D. José Policarpo com a mesma vara e com a mesma generalização com que ele mediu.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sem emenda

Por vezes a humanidade ainda me consegue surpreender e nem sempre pelos melhores motivos.

Num contexto de crise aguda e de medidas profundamente impopulares, fruto da acumulação de asneiras que fomos coleccionando neste país ao longo de décadas, não me surpreenderia que algumas pessoas, mesmo simpatizantes do PSD, estivessem pouco contentes com o Governo. Creio, aliás, que nem o próprio Governo está contente com as medidas que tem de tomar, apesar de necessárias e apesar da alguma desinformação especulativa que ainda tenta deixar os portugueses mais preocupados do que já estamos, é de mediano bom senso acreditar que qualquer Governo o que gostaria de fazer era baixar impostos e aumentar os apoios sociais e passear-se ao canto do contentamento popular.

Apesar de tudo isto parece-me claro que também já todos percebemos que os erros se pagam e pagam caro e quando hoje muitas pessoas vêm dizer que não fomos nós, o chamado Zé Povinho, o culpado pela desgovernação, em especial a dos últimos anos, eu tenho de relembrar que José Sócrates não pôs nenhuma pistola na cabeça das pessoas para votarem nele e portanto, enquanto eleitores tornámos-nos co-responsáveis pelos resultados dessa Governação e globalmente todos somos responsáveis, enquanto nação. Portanto agora não vale a pena vir dizer que não tivemos nada que ver com o assunto porque fomos nós que escolhemos.

Mas nem sequer é esse o motivo que me leva hoje a escrever, é que perante a actual situação nacional confessava-me um militante do PSD que estava descontente com o Governo porque a ASAE não estava a actuar da forma que ele achava correcta. Confesso que, apesar de reconhecer os argumentos, primeiro fiquei pasmo, depois lá fui balbuciando que este Governo está em funções há pouco mais de dois meses, obrigado a implementar medidas correctivas do défice em contra-relógio, com um buraco inesperado de 2 mil milhões que anterior Governo conseguiu ainda cavar em 5 meses e com uma avaliação determinante da Troika a meio desse período, era capaz de não ser uma prioridade da Governação rever os parâmetros de actuação da autoridade para a segurança alimentar e económica....se é que há alguma coisa para rever para além de meter bom senso na cabeça de alguns inspectores, digo eu.

Este episódio, ainda que caricato, vem confirmar que ainda se continua a olhar para o próprio umbigo independentemente das dificuldades globais e dos problemas gravíssimos que nos afectam enquanto nação. Foi assim que Sócrates conseguiu ser reeleito contra uma Manuela Ferreira Leite que, em lugar de facilidades, dizia que por este caminho nos íamos afundar...e afundámos.