sábado, 14 de maio de 2011

O maravilhoso mundo dos comentadores...

Neste país, por Sócrates à beira-mar afundado, temos um conjunto de comentadores e ditos "opinion makers" que francamente brada aos céus. Desde os simples jornalistas aos comentadores especializados, o cenário é dantesco, com poucas e honrosas excepções.

Na sua esmagadora maioria não têm as competências técnicas para avaliar as matérias que analisam ou cobrem e quando as têm, teimam em não as usar.

A propósito da Taxa Social Única, Sócrates e agora até Paulo Portas, vêm dizer que baixar a taxa gradualmente não têm impacto, e os senhores jornalistas acenam afirmativamente com a cabeça, afinal uma redução de 1 por cento parece obviamente baixa não é? Pois, mas a redução de 23,75 para 22,75 não é apenas 1 por cento, é 4, 2% do custo da TSU e no final dos 4 anos isso poderá significar uma redução de mais de 16% com esse custo do trabalho. Será que ninguém já sabe fazer contas neste país de sucesso educativo de Sócrates? Nem sequer os tais 1500 novos doutorados ano? Eu garanto que os "mal-sucedidos" detentores da velhinha 4 classe são capazes.

Depois seguem todos a mesma corrente. Isto é, se dois ou três fazem análises num determinado sentido, os restantes, mais para aqui, mais para ali, acabam por ir atrás.

Hoje estava a ler as últimas e vejo que o Secretário de Estado do Tesouro admite privatizar a RTP, e só na totalidade, não só um canal, isto quando o Primeiro-ministro recusou liminarmente essa privatização. Se fosse no PSD já estavam todos os comentadores a dizer que era a confusão do costume, neste caso ninguém falou. Como ninguém falou cada vez que o Ministro das Finanças ou dos Negócios Estrangeiros contradiziam o Primeiro-ministro, não no PS, não há confusão, não senhor, só temos um governo que nunca cumpriu aquilo que disse e um Primeiro-ministro que dá o dito por não dito todos os dias. Curiosamente já consideraram confusão quando Eduardo Catroga afirmou que a TSU deveria vir a descer até 8 pontos, num contexto de expectativa para daqui a alguns anos e verificada a recuperação económica, reforçando assim um caminho de aumento da competitividade, mas neste caso parece que tudo quanto é jornalista teve um súbito ataque de falta de discernimento e perceberam que era para já. Coitados, provavelmente vieram de algum processo de novas oportunidades...

Os nossos jornalistas e comentadores arrogam-se o direito de perceber só o que querem e de imputar aos outros as suas faltas de clarividência e na esmagadora maioria dos casos de simples bom senso e contextualização da frases e afirmações. O que é interessante é que normalmente as incompreensões só se verificam em relação ao PSD, quanto ao PS até as mais elementares mentiras parecem ficar claras nas mente destas senhoras e senhores...

domingo, 8 de maio de 2011

Coesão Europeia



A questão da ajuda externa a Portugal está a colocar a nu algumas das fragilidades estruturais da União Europeia.

O chamado sonho europeu objectiva em última fase um sistema federal, do tipo do Norte-americano ou Brasileiro, embora tal poucas vezes tenha sido admitido publicamente pelos dignitários da UE. Essa construção é um processo muito complexo num espaço multicultural, bastante heterogénico e com nacionalidades profunda e arreigadamente marcadas.

Há uma regra de ouro para a construção de unidades e é que o grupo avança ao ritmo dos mais lentos por forma a não causar a divisão do mesmo, ora, na UE isso nunca foi uma regra, sempre se estabeleceram regras ao ritmo dos mais rápidos e poderosos, leia-se a Alemanha, a França , Espanha, Itália e Reino Unido. Depois temos um conjunto de países que facilmente acompanham esse ritmo dada a sua dimensão e organização, ficando de fora deste pelotão, precisamente os países periféricos mais pequenos, Portugal, Grécia e Irlanda e outros que aderiram mais recentemente e que neste momento ainda não evidenciaram os problemas que terão para acompanhar os ritmos dos gigantes.

A verdade é que os nacionalismos não se esbateram, nem se esbatem com posições como as assumidas pela Finlândia ou pelo Reino Unido, que puseram em causa a sua participação na ajuda externa a Portugal. Nesta matéria a questão é muito simples: ou todos os estados contribuem ou o Fundo Europeu de Estabilização Financeiro da UE não tem razão de existir e ficam em causa todo um conjunto de medidas de solidariedade e de interajuda europeias, bem como o processo estrutural de construção da coesão social e económica da União Europeia.

O caminho, se é que alguma vez lá vamos chegar, não pode ser torpedado pelos interesses próprios de cada país, seja ao nível da participação nas iniciativas, seja ao nível de paternalismos ou prepotências bacocas de dirigentes nacionais como a Senhora Merkel e de outros que se arrogaram o direito de tomar posições sobre questões internas de Portugal. Ainda não ganharam esse direito, em especial quando todos os conselhos e opiniões nada tiveram a ver com o que era importante para Portugal, mas sim com os interesses próprios e egoístas dos seus países.

A evolução das relações entre os estados e a forma como se comportarem os dirigentes nacionais terá uma importância determinante na evolução e no futuro da União Europeia, se bem que seja fundamental que se perceba que o processo de construção de uma Europa unida não é irreversível nem está consolidado.

Mia Couto

Normalmente não faço posts com textos alheios, mas este merece...e merece ser lido.

" Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim.

MIA COUTO "

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Adeus...

Alguém mo explica?



Se o PEC IV era não só suficiente, como muito melhor que as medidas agora acordadas com a troika, conforme anda a apregoar tudo quanto é ministro de José Sócrates e o próprio também, porque razão é que a dita troika não se limitou a defender a sua aplicação pura e simplesmente? Afinal já tinham o trabalho e os planos feitos.

Serei só eu que acho esta conversa demagógica e mais uma descarada mentira?

terça-feira, 3 de maio de 2011

O mentiroso normal...



Estive a conferir todas as declarações públicas de Pedro Passos Coelho e não encontrei em nenhuma qualquer afirmação que pudesse ter originado o comentário de José Sócrates em que acusava Pedro Passos de querer destruir o sistema de ensino público, como de resto acusa em relação ao Serviço Nacional de Saúde, Segurança Social, transportes públicos, etc...

Curiosamente, as filhas de Pedro Passos Coelho andam na escola pública e os de Sócrates na privada...

A estratégia de Sócrates é simples: Acusa Pedro Passos Coelho de tudo todos os dias para assim não ter de falar do seu ridículo e obsoleto programa eleitoral, que toda a gente já reconheceu como absurdo e absolutamente ultrapassado e irrealista e ainda para não ter de falar dos seus gloriosos seis anos de governação que duplicaram a dívida externa, o desemprego e nos trouxeram até à beira do abismo e da completa desagregação social.

Atrevo-me a afirmar que mesmo que Pedro Passos quisesse destruir algum destes sistemas já vinha tarde porque Sócrates já se encarregou de o fazer. A verdade é que Sócrates faz exactamente o oposto daquilo que apregoa e fá-lo com um ar tão convicto que começo a suspeitar que a criatura padece de alguma dissociação mental grave.