sábado, 25 de agosto de 2012

Memória Curta

Reconhece-mo-nos enquanto nação por ter brandos costumes e memória curta. Se os brandos costumes são até um indicador de civismo e de de tolerância muito positivo, já a memória curta é uma péssima característica nacional que aliada à tendência para sermos demasiado crédulos faz de nós os alvos perfeitos para demagogos.

Hoje todos protestamos pelos sacrifícios que temos de fazer, há inclusive partidos que fazem disso a sua ideologia, visto que as suas reais propostas não convencem já ninguém, assim limitam-se a cavalgar o descontentamento como forma de sobrevivência. Mas a verdade é que mais coisa, menos coisa, não havia alternativa a este período doloroso e mesmo dramático da nossa sociedade.

Em Maio de 2011, Portugal estava à beira da bancarrota. Significa isto que daí a pouco mais de um mês já não teríamos dinheiro para pagar os nossos compromissos, já não teríamos dinheiro para pagar os ordenados dos funcionários públicos, as pensões dos reformados, etc. Esta era uma situação muito grave, muito mais grave do que a esmagadora maioria dos cidadãos se apercebeu. Não se tratou de uma crise, daquelas que estamos habituados a atravessar, era uma situação de descalabro completo da nossa economia e da nossa sociedade. Mas a politica de negação da realidade do anterior governo acabou por deixar aos portugueses a ilusão de que a situação não era assim tão grave e talvez por isso continuamos hoje a ouvir desde políticos a cidadãos comuns quem ache que não era necessária esta austeridade toda e se vire contra o actual governo por a estar a impor.

Em bom rigor, é preciso lembrar, quem fez o acordo com a troika e negociou as metas foi ainda o anterior governo.Note-se bem que quem definiu que no final deste ano teríamos, no máximo, um défice de 4,5 % do PIB foi o anterior governo, este limita-se a cumprir o que foi comprometido em nome de Portugal.

Quando o actual governo tomou posse começaram a aparecer défices escondidos, começaram a aparecer dívidas não contabilizadas aquando do acordo, fosse por incompetência ou por má fé do anterior governo, a verdade é que as metas que foram acordadas eram muito exigentes e essa exigência foi agravada ao se descobrirem esses custos e dívidas ocultos na altura das negociações.

Para quem ainda não percebeu o que se está a passar, talvez um simples exemplo ajude: Eu peço um empréstimo para poder comer de 5 mil euros e comprometo-me a pagá-la em 4 anos porque acho que consigo libertar 1250 euros por ano depois de pagar as outra dívidas que já tenho. No entanto ao verificar bem as coisas, vejo que afinal as dívidas que já tinha eram muito superiores e só consigo ter disponíveis 750 euros por ano, mas eu comprometi-me a pagar em 4 anos o empréstimo e agora tenho de arranjar maneira de o fazer porque preciso que me vão emprestando os tais 5 mil euros para poder comer. Assim está Portugal, assim nos deixou o anterior governo e assim herdou este governo a situação do país. Se não cumprirmos as metas não vamos ter o dinheiro que é fundamental para podermos sobreviver, logo de nada vale estarmos aos gritos contra o governo a dizer que a austeridade é demais porque não foi este governo que definiu as metas nem os acordos, foi o anterior e logo quem quiser  protestar, legitimamente, deverá fazê-lo junto à sede do PS no largo do Rato ou ir a Paris e fazê-lo junto de José Sócrates.

Não estou a dizer que está tudo bem feito, é óbvio que em situações de desespero se cometem erros, é óbvio que todos os governos tomam medidas desajustadas e que haverá situações que poderiam ter alternativas eventualmente de menor rigor, mas, grosso modo, não havia margem de manobra para fazer as coisas de modo muito diferente.

Mas somos um povo de memória curta e só vivemos o presente, muitos já se esqueceram que quem nos colocou nesta tristíssima situação e outros só se preocupam com hoje, dispostos a sacrificar todo um futuro por um pouco menos de sacrifícios no presente, aliás, foi assim que chegámos a esta ponto, esquecendo o passado e negligenciando o futuro.

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