quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A banha da cobra

Nos finais do século XIX, na altura do famoso conflito do Mapa Cor-de-Rosa ( quem não sabe o que é faça favor de ir pesquisar porque inclusivamente daí se originou o nosso, hoje, hino nacional ) que levou ao ultimato inglês de 1890, a revolta nacional foi profunda e depois de vestir a estátua de Camões de luto, foi proposto criar a Comissão de defesa Nacional com a pacóvia missão de fazer uma recolha de verbas para comprar navios de guerra, como o Cruzador Adamastor, para combater a Inglaterra...que tinha só a maior armada do mundo.

Obviamente que nada disso sucedeu e acabámos por engolir o orgulho e ceder humilhados aos ingleses um conjunto de territórios em África. Já na altura, o nosso principal problema era o endividamento externo e fraca economia nacional.

Hoje estamos em situação similar e como noutros tempos em lugar de se atacar o problema ainda há quem defenda atacar as consequências. Hoje ninguém quer os nossos territórios mas querem determinar como nos governamos e como vivemos, embora para sermos honestos temos de reconhecer não nos temos governado nem vivemos muito bem. Aliás desde os tempos de Viriato de nós se dizia que não nos sabíamos governar nem deixávamos que nos governassem.

Mas voltando ao assunto, hoje, em lugar de cerrarmos fileiras para reconstruir a economia de Portugal e reconquistarmos a nossa independência financeira e económica, os habituais vendedores de banha da cobra defendem a renegociação da dívida.

O curioso é que ainda ninguém disse claramente aos portugueses o que significa renegociar a dívida. Uns defendem outros dizem que é impensável, mas afinal o que significa renegociar a dívida?

É simples, dizemos aos nossos credores que não vamos pagar tudo o que lhe devemos. Que não não vamos pagar os juros acordados nem o capital na totalidade, apenas uma parte ou então que não o faremos nos prazos acordados mas sim em prazos muito mais longos. Resumindo assumimos que estamos insolventes, na banca rota e que não conseguimos pagar.

E qual é o resultado? Também é simples ninguém nos empresta nem mais um euro.

Ora como nós continuamos a precisar de nos endividar mais, como temos défice, como o que precisamos para manter a despesa nacional é mais do que produzimos, isso significa que teríamos de fazer cortes ainda maiores na despesa ou aumentar ainda mais os impostos, sob pena de não haver dinheiro para a saúde, para a educação, para a defesa, para a segurança social, para pagar aos funcionários públicos, etc...

Portanto, quem defende a renegociação da dívida em nome de aliviar os sacrifícios que todos temos de fazer para equilibrar as contas do país, está na realidade a defender uma solução que iria extremar esses sacrifícios, na medida em que em lugar de esse ajustamento se fazer gradualmente ao longo de dois ou três anos e para um défice de 3%, teria de ser feito de imediato e para um défice zero, porque não haveria financiamento externo.

Hoje, como sempre e parece ser uma maldição deste país, há quem apenas defenda os seus interesses individuais ou de fracção em detrimento do interesses de Portugal aproveitando-se da falta de cultura que ainda é um flagelo neste país.

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