terça-feira, 7 de setembro de 2010

Criatividades...

Gosto bastante de filmes de "capa e espada" e portanto, apesar de algumas criticas, não pude deixar de ver o Robin Hood, versão 2010, de Ridley Scott.

Todos sabemos que os argumentistas têm de usufruir de algumas liberdades de adaptação, sob pena de não se poderem fazer "remakes" ou adaptações cinematográficas de livros e tanto mais liberdade têm para dar largas à sua imaginação quando se trata de personagens de ficção.

Neste caso o filme conta com elenco de bons actores, embora peque desde o início por se ter feito um argumento para o actor principal e não para a personagem, o que enche o ecrã com Russel Crowe e não com Robin Hood e os restantes personagens, esses então não têm qualquer substrato ou profundidade. Já agora, só por curiosidade, a tradução literal seria o Robin da Capa e não dos Bosques.

Mas o pior deste filme, que pretende ser sério e não uma simples adaptação criativa da história, é precisamente a história, quer a do argumento, quer a história real. Quando se enquadram personagens de ficção na história, tem de se respeitar essa mesma história e os acontecimentos como eles ocorreram e é aqui que o filme perde a já de si pouca coerência de um argumento cheio de absurdos e muito pouco sólido. Contém tantos erros históricos que nem a criatividade do argumento os pode justificar, apenas a ignorância dos argumentistas.

Só a título de exemplo, Ricardo I, o Coração de Leão, morre efectivamente em França, no cerco de Challus, não ao regressar da Terceira Cruzada, mas já depois de ter voltado a Inglaterra e na tentativa de reconquistar a Normandia. A Magna Carta não foi escrita por um mason e foi assinada pelo Rei João I, de cognome João Sem Terra, perante a revolta dos nobres e dos burgueses mas em 1215, não em 1199 e sem ameaça de invasão francesa, que só ocorreu um ano depois. Não havia modernos barcos de desembarque de tropas no século XII como os da imagem. Enfim a lista segue por aí adiante, até ao ponto em que as distâncias entre os locais onde o filme decorre seriam impossíveis de percorrer no espaço de tempo considerado no filme. Bom, se fosse de automóvel seria possível, mas a cavalo e a pé...

É pena que se tenha perdido uma boa ocasião de fazer um bom filme, assim fica mais uma versão, embora nitidamente inferior a outras já realizadas, apenas a boa qualidade da imagem e boa interpretação dos actores não tornam este filme uma comédia de má qualidade.

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