Raras vezes Cavaco Silva é tão
directo como o foi na mensagem de ano novo. Felizmente não é nenhum Jorge
Sampaio, cujos discursos eram ininteligíveis, mas prima também por alguma dose
de ambiguidade na maioria das intervenções.
Desta vez foi claro. Disse que
temos de pôr cobro à espiral recessiva da economia, recuperar o mercado interno
e travar o flagelo social do desemprego, disse que o programa de ajustamento
tem de ser cumprido, no prazo previsto, sem mais dilações e tem de dar
resultados. Recordou ao PS que criou e assinou o dito acordo e que não pode
agora simplesmente sacudir a água do capote, assobiar para o lado e querer
adiar todas as reformas com que se comprometeu, apenas porque são impopulares.
Manifestou dúvidas sobre a
justiça do retirar de um subsídio aos funcionários públicos e não aos privados
e ainda sobre a taxa de solidariedade iniciar-se para os reformados em valores
menores do que para os trabalhadores no activo, mas, se em relação aos
subsídios há efectivamente um tratamento diferenciado, na questão das reformas,
há que ter em conta que os trabalhadores no activo tem de pagar a TSU, o que
lhes retira logo 11% do seu rendimento bruto, logo parece óbvio que a taxa seja
aplicada a estes só para valores mais elevados do que para os reformados.
Até aqui tudo claro. Mas pelo
meio falou o Presidente em solidariedade da União Europeia. Cavaco sabe muito
bem que não é possível fazer o ajustamento necessário sem recessão. Cavaco sabe
e disse que não podemos pedir mais tempo porque isso significa mais juros e
mais dívida, mais dependência financeira e política dos nossos credores e
portanto a única saída airosa era falar de apoio extraordinário da União
Europeia, recordando o nosso bom curriculum no seio da comunidade.
Cavaco sabe que sem investimento,
sem apoios à produção, não se cria desenvolvimento nem empregos e Portugal não
tem acesso ao crédito para disponibilizar esses apoios. Este é o Calcanhar de
Aquiles do discurso de Cavaco, os meios para sair de recessão, ou pelo menos
inverter a tendência já em 2013, não estão ao nosso alcance facilmente, não
dependem exclusivamente de nós, nem da vontade do Governo, dependem de uma
hipotética solidariedade da União Europeia que, como Cavaco reconheceu, se
encontra em recessão e com várias das suas economias pilar com necessidade de
apoio externo. E isto Cavaco não disse.
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