domingo, 25 de setembro de 2011

A superioridade moral

Confesso que sempre me irritaram as pessoas que se arrogam ares de superioridade moral. Não porque cada um de nós não tenha o direito de se achar moralmente irrepreensível, mas porque a essa postura está sempre associado um julgamento dos outros, um juízo de valor e de intenção em relação à moralidade alheia, quase sempre pejorativo. Ora, ninguém tem o direito de diminuir a qualidade moral dos outros para enaltecer a sua.

A triste declaração de D. José Policarpo de que "ninguém sai da política com as mãos limpas" é um exemplo dessa lamentável postura e neste caso particularmente infeliz por vir de um alto responsável da Igreja Católica, que não sendo o primeiro, acaba por vir lançar uma pedra esquecendo-se de que só os "sem pecado" o devem fazer e a sua instituição não é exactamente impoluta.

Em Portugal, também fruto de alguns maus exemplos, é lugar comum achar que quem faz política não é muito honesto, que anda à procura de enriquecer rapidamente e de forma ilícita, quando na realidade a política nem é a actividade mais lucrativa que se pode ter na sociedade, mas de certeza uma das mais expostas e mais fáceis de controlar do ponto de vista da acumulação de património.

A verdade é que há pessoas honestas e pessoas desonestas na política, como de resto em todos os sectores e actividades da sociedade, pelo que não se pode, nem deve, julgar toda uma classe pelos actos de alguns dos seus membros. Isso é uma injustiça inqualificável, como seria considerar que, perante situações já havidas e comprovadas de corrupção e fraude no seio da Igreja Católica, todos os membros do clero são desonestos.

D. José Policarpo prestou um mau serviço ao país. Quando os políticos, esses malandros, andam a tentar atrair pessoas honestas e competentes para a actividade política, porque entendem, porque entendemos, que a política é função de serviço à sociedade e ao próximo, aparecem comentários como este que em lugar de aproximar as pessoas da política, da condução do nosso destino colectivo, apenas as afastam e deixam mais lugar para aqueles que são eventualmente menos honestos ou cujas intenções não são as mais correctas.

Infelizmente, neste caso, quem sujou as mãos foi o Cardeal Patriarca de Lisboa. Sujou as mãos porque em lugar de incentivar à participação cívica, ajudou a diminui-la e sujou as mãos porque sendo um dignitário da Igreja não observou a recomendação bíblica que nos diz : " Não julgueis, para não serdes julgados, pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos."

Agora todos temos o direito de medir D. José Policarpo com a mesma vara e com a mesma generalização com que ele mediu.

1 comentário:

Alfredo Martins Guedes - Entroncamento disse...

Embora me mereça respeito, até pelo cargo que ocupa, muito já escrevi sobre D. José Policarpo.
Nunca esquecerei aquela enorme "gaffe"? por ele cometida, quando em vésperas de uma eleição presidencial, resolveu claramente apelar ao voto em J. Sampaio, então candidato do PS, contra Cavaco Silva do PSD!
Enquanto cidadão, é claro que também qualquer prelado tem o direito a exprimir as suas opiniões políticas. Mas, sob pena de descrédito nas sensíveis funções que ocupa, ele não pode servir-se dessa mesma "cátedra" para influenciar o sentido de voto da comunidade cristã onde pontifica!