terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Mostrengo


Estive a ver com alguma atenção o Acordo Ortográfico que tivemos a infelicidade de assinar. E digo isto porque, apesar de concordar com a necessária e salutar evolução da língua, existem limites de bom senso que devem ser respeitados.

Estou convicto que nem os mais conservadores defendem a imutabilidade da forma de escrever e falar o nosso idioma, é algo tão natural como a natural evolução da sociedade, com a introdução de novas palavras e com a correcção de formas gráficas obsoletas e de consoantes mudas. Outra coisa muito diferente é mudar o idioma por decreto.

A primeira coisa que me chamou a atenção é que não há uma homogeneização da grafia e da fonética entre o Português de Portugal e do Brasil. Muitas palavras continuam a ser escritas e pronunciadas de forma diferente, pelo que me pergunto qual a eficácia real deste acordo?

Mas o mais grave é que palavras homógrafas, passam a ser indistintas na forma gráfica. E isto é uma aberração.

A queda da acentuação, que era o que distinguia a forma de pronunciar palavras homógrafas não é uma concertação linguística, mas sim uma alteração à língua portuguesa e por decreto.

Por exemplo, "para" e "pára" ou "pélo", pêlo" e "pelo" passam a escrever-se sem acento e portanto só depois de contextualizar a frase será possível saber, ou até talvez não, como pronunciar correctamente a palavra, o que é completamente absurdo.

Sempre aprendi que a comunicação deve ser precisa e objectiva, de modo a transmitir correctamente a mensagem, ora este tipo de confusões vem contrariar a regra e lançar confusão nas nossas principais formas de comunicação, a oral e a escrita. Estão a imaginar-se a ler um texto e a ter de voltar atrás e dizer, "opss, desculpem, afinal não era para mas pára"?Ridículo!

Uma coisa é a evolução natural da língua, outra bem distinta é a parolice dos nossos negociadores que para terem um pouco mais de conteúdo acordaram alterações que vêm desvirtuar a língua de Camões, como tanto gostam de lhe chamar, mas que pelos vistos pouco respeitam.

Sem comentários: