sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sic Transit Gloria Mundi


Por regra geral as campanhas presidências eram as que tinham um nível de civismo mais elevado. O facto de serem personalizadas determinava algum cuidado no tipo de linguagem e de ataques que eram produzidos, de modo a manter elevado o debate e centrado nas grandes questões do país. Afinal, findo o processo, o eleito será Presidente da República, a mais importante figura do Estado e símbolo nacional, portanto o primeiro e último garante da democracia e do regime.

Nesta campanha a coisa descambou completamente e assistimos a um lavar de roupa suja completamente inaceitável.

Não se debateram os problemas de Portugal, tentou-se fundamentalmente denegrir a imagem e o bom nome do adversário, sendo a vitima preferencial Cavaco Silva, por razões óbvias, mas nem por isso justificáveis.

A dramatização dos últimos dias, motivada pelo receio e pelo desespero, retirou credibilidade ao processo e demonstrou que os nossos políticos, quando em apertos, ainda recorrem a métodos pouco dignificantes para atingir os seus objectivos pessoais.

Confesso que estou muito desagradado com todo o processo e particularmente desiludido com Cavaco Silva e Manuel Alegre.

Com Cavaco por ter cedido ao receio da abstenção e ter vindo dramatizar de modo ridículo a sua quase impossível não reeleição. Era preciso que alguém tivesse a coragem e a verticalidade de não entrar na espiral de degradação em que esta campanha tombou.

Com Manuel Alegre por ter permitido que o Bloco de Esquerda conduzisse a sua campanha e do único modo que o Bloco sabe fazer campanhas: Com ar de superioridade moral e levantando dúvidas sobre a honestidade e a dignidade dos outros. Foi a vil e baixa estratégia de "atirar lama para a ventoinha" e tentar sujar Cavaco. O desespero de Alegre ao perceber que vai perder e o medo que Mário Soares, por interposta pessoa, Fernando Nobre, consiga fazer o ajuste contas em relação à campanha de há cinco anos, levou-o a aceitar uma estratégia de querer parecer o mais "anti-Cavaco" de todos, a meu ver, de modo tão desastrado que se descredibilizou e parece que vai acabar a discutir o segundo lugar com Fernando Nobre e não o primeiro com Cavaco Silva. Mário Soares, em qualquer caso saboreará a sua vingança.

De Nobre nada esperava e ele nada deu, limitou-se a cumprir a sua função principal de tramar Manuel Alegre, tentou ganhar simpatias afirmando-se como um candidato de fora do sistema, vitimizou-se e entrou no jogo sujo de alimentar suspeitas, tentando discutir com Alegre o lugar de "paladino" anti-cavaco.

No meio de tudo isto salvou-se Francisco Lopes, fez a sua campanha dirigida a manter o eleitorado do PCP, porque sabem bem que os votos que lhes fogem raramente voltam. Não entrou muito no "lamaçal" das insinuações e creio que conseguirá manter a base de apoio da esfera de influência do PC, até porque o candidato mais perigoso para esse desiderato, Manuel Alegre, está em queda de simpatia acentuada.

Sobre os outros dois senhores nem vale a pena comentar, acho é que temos de elevar o número da assinaturas necessárias para se poder concorrer a Presidente da República, porque é um assunto sério e mais não digo.

Em resumo, esta foi uma campanha a que faltou a dignidade e elevação que noutros tempos preservava a dignidade da figura do Presidente da República.

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