Há um provérbio que reza “mestres
de tudo, fazedores de nada” para ridicularizar aquelas pessoas que sabem tudo,
que sobre tudo têm firme e douta opinião, embora na hora de fazer, na hora de
demonstrar os conhecimentos que deveriam suportar essas opiniões se verifique
que afinal, nada sabem.
Desde há aproximadamente um ano
vimos assistindo a um conjunto de comentadores a opinar sobre como seria a
nossa saída do programa de assistência financeira. E ouvimos de tudo e todos os
dias. Ora vinha um dizer que um segundo resgate era inevitável, ora vinha um
jornal publicar que até já estava a ser discutido, ora vinha outro a afirmar
que teríamos um programa cautelar, enfim, cada qual dizia o que no momento lhe
parecia mais adequado para ter os holofotes da opinião pública e dos media
sobre ele, independentemente de ter qualquer motivo sustentado para emitir
opinião.
E esta é a realidade da nossa
comunicação social. Sempre que alguém vem com comentários alarmistas, ainda que
completamente infundados, tem tempo de antena e direito aos seus três minutos
de glória nos meios de comunicação social, não importando o quanto isso
intoxica a opinião pública, o quando isso possa prejudicar a verdadeira
informação e até o país.
Claro que isto acontece porque
nós temos um nível cultural e cientifico infelizmente ainda insuficiente para
filtrar e para exigir dos “media” um outro nível de informação e de rigor.
Claro que isto acontece porque os
“media” não exigem coerência a quem profere previsões, não seleccionam a
qualidade dessas informações, nem sequer estão muito preocupados se existe
alguma verdade ou base real para as opiniões proferidas, simplesmente são
convenientes no momento para obter audiências e isso sobrepõem-se a tudo o
resto.
Sempre que vejo um comentador,
daqueles que comentam tudo e mais alguma coisa com a autoridade de “expert” em
todas as matérias, fico logo de pé atrás e como muitas vezes entram assuntos
que são da minha especialidade e ouço as asneiras que dizem, pergunto-me que
raio de informação é aquela, aquilo não passa de um circo mediático.
Há assuntos que são muito
técnicos, todos podemos ter opinião, mas para a difundir para o país, para
reconhecer autoridade a alguém para expressar a sua opinião sobre uma matéria
deve haver alguma filtragem, é preciso que a pessoa tenha efectivamente
conhecimentos para poder opinar sobre o assunto, sob pena de a sua opinião não
valer mais, nem dever ter maior projecção ou divulgação do que a opinião de
qualquer outro cidadão.
Neste momento já sabemos que não
haverá segundo resgate, ainda não sabemos se haverá programa cautelar, mas está
na altura de voltar a questionar todos os sábios que afirmaram que esse segundo
resgate era inevitável como é que falharam tão redondamente a sua previsão, no
que é que se baseavam, o que é que correu mal, ou neste caso bem para Portugal,
para que esse inevitável segundo resgate não viesse a suceder. Como dizem os
espanhóis, “ De touros sabem as vacas e não são todas!” Sobre economia, sabem
os economistas e, como se provou por algumas opiniões de colegas que ouvi sobre
o segundo regate, não são todos, quando mais os que nem o são.
Se as pessoas fossem confrontadas
com as barbaridades que proferem quando se verifica que estavam a dizer asneira
teríamos provavelmente melhores análises, melhores opiniões e uma informação de
muito melhor qualidade, que ajudasse a dar formação às pessoas em lugar de
simplesmente as assustar.
*Publicado no Jornal A Planície
Sem comentários:
Enviar um comentário