domingo, 2 de março de 2014

Mestres de tudo

Há um provérbio que reza “mestres de tudo, fazedores de nada” para ridicularizar aquelas pessoas que sabem tudo, que sobre tudo têm firme e douta opinião, embora na hora de fazer, na hora de demonstrar os conhecimentos que deveriam suportar essas opiniões se verifique que afinal, nada sabem.

Desde há aproximadamente um ano vimos assistindo a um conjunto de comentadores a opinar sobre como seria a nossa saída do programa de assistência financeira. E ouvimos de tudo e todos os dias. Ora vinha um dizer que um segundo resgate era inevitável, ora vinha um jornal publicar que até já estava a ser discutido, ora vinha outro a afirmar que teríamos um programa cautelar, enfim, cada qual dizia o que no momento lhe parecia mais adequado para ter os holofotes da opinião pública e dos media sobre ele, independentemente de ter qualquer motivo sustentado para emitir opinião.

E esta é a realidade da nossa comunicação social. Sempre que alguém vem com comentários alarmistas, ainda que completamente infundados, tem tempo de antena e direito aos seus três minutos de glória nos meios de comunicação social, não importando o quanto isso intoxica a opinião pública, o quando isso possa prejudicar a verdadeira informação e até o país.

Claro que isto acontece porque nós temos um nível cultural e cientifico infelizmente ainda insuficiente para filtrar e para exigir dos “media” um outro nível de informação e de rigor.
Claro que isto acontece porque os “media” não exigem coerência a quem profere previsões, não seleccionam a qualidade dessas informações, nem sequer estão muito preocupados se existe alguma verdade ou base real para as opiniões proferidas, simplesmente são convenientes no momento para obter audiências e isso sobrepõem-se a tudo o resto.

Sempre que vejo um comentador, daqueles que comentam tudo e mais alguma coisa com a autoridade de “expert” em todas as matérias, fico logo de pé atrás e como muitas vezes entram assuntos que são da minha especialidade e ouço as asneiras que dizem, pergunto-me que raio de informação é aquela, aquilo não passa de um circo mediático.

Há assuntos que são muito técnicos, todos podemos ter opinião, mas para a difundir para o país, para reconhecer autoridade a alguém para expressar a sua opinião sobre uma matéria deve haver alguma filtragem, é preciso que a pessoa tenha efectivamente conhecimentos para poder opinar sobre o assunto, sob pena de a sua opinião não valer mais, nem dever ter maior projecção ou divulgação do que a opinião de qualquer outro cidadão.

Neste momento já sabemos que não haverá segundo resgate, ainda não sabemos se haverá programa cautelar, mas está na altura de voltar a questionar todos os sábios que afirmaram que esse segundo resgate era inevitável como é que falharam tão redondamente a sua previsão, no que é que se baseavam, o que é que correu mal, ou neste caso bem para Portugal, para que esse inevitável segundo resgate não viesse a suceder. Como dizem os espanhóis, “ De touros sabem as vacas e não são todas!” Sobre economia, sabem os economistas e, como se provou por algumas opiniões de colegas que ouvi sobre o segundo regate, não são todos, quando mais os que nem o são.


Se as pessoas fossem confrontadas com as barbaridades que proferem quando se verifica que estavam a dizer asneira teríamos provavelmente melhores análises, melhores opiniões e uma informação de muito melhor qualidade, que ajudasse a dar formação às pessoas em lugar de simplesmente as assustar.

*Publicado no Jornal A Planície

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