Há uns tempos atrás ouvi vários
comentadores, daqueles de trazer por casa que é a quem, infelizmente, os nossos
media dão tempo de antena, criticarem Pedro Passos Coelho por ter dito “que se
lixem a eleições”. Disseram na altura os doutos analistas que não deveria ter
dito a famosa frase, que era um reconhecimento antecipado de derrota eleitoral,
que era a mensagem errada para as hostes partidárias, etc. Não bastando isto,
por várias vezes se criticou o Primeiro-ministro por anunciar medidas menos
populares em vésperas de períodos eleitorais, dando assim corpo à anunciada
intenção de não governar a pensar nos ciclos eleitorais, mas sim de acordo com
a sua percepção do que é importante para o país.
Pasmei quando agora vêm os mesmos senhores dizer que o Primeiro-ministro fez mal por, no entender dos sábios comentadores, ter tido um discurso de optimismo moderado para o próximo ano na sua mensagem de Natal, acusando-o de eleitoralismo. Ora bem, vejam lá se se entendem, ou o criticam por não ser eleitoralista ou criticam por ser eleitoralista, pelas duas coisas já é mera oposição política e não análise jornalística.
Mas o mais curioso de tudo ainda é que a crítica à mensagem de Natal de Pedro Passos Coelho não se baseia apenas no tom de moderado optimismo, é por não ter tido um tom derrotista de pessimismo que esses senhores comentadores achavam que ele deveria ter tido. Segundo os mesmos o Primeiro-ministro deveria ter vindo dizer que o próximo ano vai ainda ser pior, que estamos muito mal, que não há esperança. Mas porquê? Todos os indicadores os contrariam, até o do consumo interno. Seria porque essa postura servia melhor as convicções políticas dos senhores comentadores? Porque não são capazes de engolir que se enganaram todas as vezes que afirmaram a pés juntos que seria preciso um segundo resgate ou que nunca conseguiríamos fazer uma saída limpa do programa de ajustamento?
Eu percebo a dor de cotovelo, mas a verdade é que o Governo conseguiu aquilo que esses senhores diziam ser impossível e se eu estivesse no lugar deles, em vez de vir abrir a boca e deixar falar o espírito, pelo menos, dava o benefício da dúvida a quem já por diversas vezes fez o que eles diziam inalcançável e esperava pelos resultados e pelos indicadores do próximo ano antes de voltar a dizer asneira. Claro que isso não lhes dava notoriedade, nem popularidade, mas pelo menos dava-lhes um ar de competência que é o que não têm demonstrado ao falhar as previsões todas.