Durante todo o inqualificável
processo de exploração mediática da tragédia do meco estive em silêncio.
Já assisti a muitos linchamentos
públicos de pessoas pela comunicação social com o simples e degradante motivo
de subir as audiências e vender jornais e também já percebi que de nada servem
os argumentos mais inteligentes do mundo contra um pouco de estupidez que
esteja na moda e seja repetida diariamente pelos órgãos de comunicação social.
Praxei e fui praxado, e nas três
Universidade a que estive ligado, quer como aluno, quer como professor, nunca
vi nada que remotamente se parecesse ao que era descrito pelos "media" neste
caso. Claro que há praxes violentas, que vão muito além do que seria aceitável,
mas quase uma espécie de seita secreta de praxes violentas como a que era
descrita sempre me pareceu algo inacreditável ou pelo menos muitíssimo improvável.
Agora a Policia Judiciária, uma
das melhores polícias de investigação do mundo, vem concluir que a infeliz
tragédia nada teve que ver com praxes e que todo o circo mediático montado à
volta deste assunto só serviu para atrasar as investigações.
Fizeram-se programas de
televisão, debates, reportagens, deram-se quase como provadas uma serie de coisas
que pelos vistos não eram verdade, que foram meras invenções de gente com muito
poucos escrúpulos, movidos pela ganância do lucro e explorando a emoção da tragédia
de várias famílias. O sobrevivente foi caluniado, insultado, fizeram-lhe uma autêntica
execução pública da sua personalidade. Afinal, parece que apenas teve um pouco
mais de sorte que os seus colegas, mas todo este mediatismo vai marcá-lo para o
resto da vida. Só espero que processe todos aqueles que o vilipendiaram e que paguem
com língua de palmo as mentiras que disseram.
Este caso é o típico comportamento
para que desde há algum tempo venho chamando a atenção. Dada a falta de escrúpulos,
de profissionalismo, de carácter de muitos responsáveis de edição e de
jornalistas, acreditar naquilo que se ouve e vê sem qualquer prova inegável,
apenas com base em rumores, apenas com base em “fontes bem informadas” é
estarmos a alienar a nossa consciência, a nossa inteligência e o nosso livre arbítrio.
Esta realidade atinge todas as áreas
da nossa vida, todos os dias vimos notícias bombásticas, demolidoras para
pessoas ou instituições que apenas se baseiam em boatos, em suspeitas, em
previsões, em hipóteses, em futurologia com bola de cristal, mas que nada têm
de concreto ou de substancial, mas como as pessoas acreditam em tudo o que lêem
nos jornais ou na internet ou ouvem nos telejornais, essas falsidades acabam
por se tornar factos nas suas mentes e criar as consequentes reacções de medo,
repulsa, crítica, levando-os a formar uma opinião errada, inconsistente e
meramente manipulada segundo os interesses que quem promoveu a mentira.
Quando se diz que a comunicação
social é o quarto poder, não estamos a ser simpáticos, nem sequer a ser
realistas, dada a falta capacidade, de filtro, das pessoas para analisar aquilo
que lhe é impingido e com a impunidade com que se mente e se deturpam os factos
neste país, a comunicação social não é o quarto, é o primeiro poder porque
influencia a opinião e o comportamento de uma população crédula e incapaz de
sentido critico em relação ao que considera “notícia”, por muito absurda, falsa
ou manipuladora que ela seja.
Disse alguém que a grande falha
do 25 de Abril foi a educação, o não ensinar as pessoas a pensar por si…infelizmente é cada vez mais evidente essa
lacuna, essa fraqueza, que deixa os cidadãos à mercê das feras da selva que são
os jogos de interesses em Portugal.